segunda-feira, 30 de abril de 2007

Recife, tecnologia e selvageria

Há alguns anos não suportava mais duas coisas, a violência urbana na minha cidade natal e trabalhar com tecnologia. É fácil falar que uma metrópole com 3 milhões de habitantes não tem como não ser violenta, mas a principio quando se pensa nisso imaginasse que o risco de ser assaltado é maior, evidentemente. Porém, aqui as pessoas estão morrendo como na idade média, na base de paulada, facada ou pedradas, fora tiros.

Eu sempre tive paixão pela violência, aquela violência cinematográfica do Quentin Tarantino ou dos filmes de terror trash... Sonhava em viver na era das espadas e morrer aos 30 numa batalha sangrenta. Na chamada vida real de hoje, não adianta muita coisa ser forte, ou saber arte marcial, você pode ter certeza que suas chances de não mexer nem um braço e ser fuzilado são as maiores possíveis, maiores do que as de um cidadão iraquiano ser morto por um tiro.

Recife se tornou a cidade do medo, onde sair de casa e ir ao trabalho deixou de ser algo banal. Você pode morrer com um tiro ao ir ao supermercado, shopping ou simplesmente por estar sentado na porta de sua casa jogando dominó com o vizinho.

Na época que se tornou moda estuprar garotas dentro dos ônibus achei que aquilo era meu limite, e me mudei para João Pessoa, uma bela e pacífica cidade a 130 km da capital Pernambucana. Menos de três anos depois tive que voltar.


Não sei se esse video é fake! Mas é exatamente a realidade que vivemos
A música ficou tão bem encaixada que parece um video clipe


Aproveitando tentei mudar de ramo profissional, e me afastei do mundo da tecnologia, onde eu trabalhava com muito orgulho, mas sempre vivendo no limite, já que meus clientes eram empresas públicas, que além de serem lentas e atrasadas, normalmente prosperavam os corruptos e comedores de bola (propina), não só os funcionários públicos, mas também os fornecedores escroques que se acham expertos em levar vantagem no jogo. Alguns chegam até a criticar o sistema, mas ao surgir qualquer oportunidade saem logo subornando do garçom ao guarda de trânsito, não demora muito até a propina chegar a mais alta esfera governamental.

Sempre achei que deveria lutar para mudar as coisas como elas são desde que nasci. Mas hoje cheguei ao ponto de desistir, e vejo que deveria ter desistido bem antes.

Vejo que deveria ter aceitado as oportunidades que surgiram em São Paulo, e que por pura frescura recusei, achei que ficaria bem aqui na minha amada terra e perto das praias que amo tanto.

O ser humano, mesmo os mais inteligentes, tem a tendência de achar que os problemas dessa ordem (violência, finanças, guerras) nunca chegarão a sua porta. Eu penso matematicamente e uso a probabilidade, se as coisas começam a acontecer muito próximo de mim, sei que posso me tornar vitima ou simplesmente mais um dado inserido no numero de corpos debaixo da terra. Para complicar mais a situação, famílias são compostas de varias almas, e o que fazer? Abandonar os que você ama e se mandar para uma terra mais civilizada?

Nesses dias vi o vocalista do Skank, Samuel Rosa falando uma frase que expressa tudo que eu acho: “Se está assim, é porque alguém está lucrando com tudo isso”

Na MTV também rola uma vinheta com o titulo “Ovos e tomates” , que vem do manifesto que rolou nas ultimas eleições, que só funcionou para os políticos coitadinhos aparecerem na mídia e ameaçarem a empresa, o público que na verdade deveria reagir, fica esperando a vinheta acabar para poder ver o clipe da Shakira.

Se você tem um pouco mais de miolo, um pouco de grana e um inglês ou francês razoável, foge logo daqui, isso não é um lugar de se viver.

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