sexta-feira, 15 de julho de 2005

Todo homem tem seu preço

O Brasil é algo que merece ser estudado. Nos temos material cientifico para qualquer ramo acadêmico. Temos exploração de petróleo, diversidade vegetal e animal, multietnias convivendo em relativa paz, uma disparidade social comparável a dos paises africanos (Por isso Lula deve ir tanto a África), mas o que temos de mais valioso para estudos são os corruptos. Não é o corrupto bicho como o personagem de Jô Soares, que vivia dentro de uma gaiola, e não resistia a notas verdes. Temos seres humanos camuflados com ternos e veículos pretos a prova de bala e moralidade.

O mundo hoje é muito melhor que há um século, porém a corrupção de hoje está minando conquistas que adquirimos as custas de muitas vidas no passado. Eu vejo o Brasil como a Rússia. É fácil lembrar do sofrimento dos judeus, mas nada se compara aos seguidos extermínios na Rússia. Em um único campo de concentração haviam dias que a ordem era de exterminar 6000 pessoas. Alguns irão dizer que na China isso era o aperitivo. Porém os amarelos tinham uma divisão de castas, e os povos daquela região brandiam a bandeira da guerra desde o berço. Era uma cultura, como os bárbaros da Germânia.

Lembrando dos bárbaros e orientais, vem na cabeça a historia dos Harakiris. Mesmo os povos mais cruéis e rudes formataram suas regras sobre ética e respeito. Parece que a globalização fez a vontade de viver maior que a ânsia do justo. É tão mais importante prosperar e fazer sucesso que acabaram-se os dias que “passar por cima” de alguém era coisa de nazista atropelando prisioneiro.

Já faz tempo que a vergonha não leva mais ninguém ao suicídio. Nem no Japão (Dono da técnica de enfiar a faca no bucho) empresários que foram descobertos metendo a mão na lama se matam mais.
Isso de ser bandido e não ter vergonha não é exclusividade do Brasil, ou alguém ai acha que Michael Jackson e O. J. Simpsom são anjos ?

Do lado da ciência e vislumbre da ficção do cinema, o Brasil é o primeiro país a entrar na Matrix, pois é.
As pessoas agora são só números, meras estatísticas. Tantos morrem hoje, tantos passam fome, tantos sofrem nas filas de hospitais...
No mundo dos números, temos um que merece ser estudado, a falta de ética e vergonha.
As pessoas aqui chegaram a um ponto inigualável na historia. Essa semana a loja para milionários Daslu foi invadida por 240 policiais a procura de provas para um vasto numero de irregularidades. Pelo noticiado na imprensa, o ministério público tinha mais que provas suficientes para realizar essa operação e fechar o negócio, mas além da loja permanecer aberta, a empresária dona do negócio cogita processar a união pela cruel forma que ela foi ofendida moralmente.

Nessas horas que sinto uma revolta incrível, lembro-me de um cidadão que trabalhou comigo. Ele era mais um dos que aprova a sujeira, desde que ele leve um naco do roubo (Infelizmente acho que maioria das pessoas pensam como ele). Ele nutria uma raiva pessoal pela minha pessoa. Uns podiam chamar de inveja outros podiam achar que ele sufocava uma paixão homossexual, mas o que não tenho dúvida é que ele odiava meu modo de sempre querer fazer o correto. Em certo embate moral ele soltou essa: “Todo homem tem seu preço”.
A minha primeira resposta foi a retórica normal: “Não me vendo por dinheiro nenhum”.

Mas passado certo tempo eu vejo que ele estava certo. Não no modo como ele pensava, mas muito mais profundo. Vou ilustrar isso com um dos adventos da bandidagem guerrilheira, comum em nossas cidades.
Se seqüestrassem seu filho, quanto você pagaria para telo salvo e de volta aos seus braços de pai ou mãe ?
Todo homem tem seu preço sim!
Agora imaginem nascer em uma favela, passar fome, não ter escola, água, carinho e tranqüilidade familiar.
Ver a cada 4 anos o país mudar seus lideres, e nada mudar. Ver na TV um mar de lama tão grande que para um humilde cidadão é difícil até de entender que números e cifras são essas (Considero-me um humilde cidadão).

Como vamos imaginar um brasileiro médio cometendo harakiri ? Porque ele faria isso ?
Quem cresce no nosso país tem uma única cartilha a aprender, a da sobrevivência. Vivemos rodeados de leões. Leões ferozes que nos espreitam com pistolas e facas e leões de ouro, que vestem Armani e são alimentados por nos mesmos.
Só nos resta escolher o que queremos ser, leões com pistolas ou leões de ouro.

Nascemos no Brasil, aqui todo homem tem seu preço, e valemos muito pouco.
Pelo menos serviremos para estudos, somos números da Matrix.

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