terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

The World´s Freak (O mundo é doido)








Finalmente achei um maluco que merece respeito (ou pelo menos respeitam ele momentaneamente) e divide comigo a ótica de sempre olhar qualquer acontecimento por no mínimo dois prismas (e olha que um só prisma já dá uma porrada de cores e luzes diferentes). Trata-se do economista Steven D. Levitt, autor do livro Freakonomics. Em seu famoso livro ele expõe comparativos que para a maioria é total loucura, mas como seu trabalho é baseado em dados reais ele consegue responder perguntas como essas:

- Qual a semelhança entre a Ku Klux Klan e um grupo de corretores de imóveis?

- Se o trafico de drogas dá tanto dinheiro, porque os traficantes continuam morando com as mães?

O livro é na verdade um estudo econômico com tendência a psicologia de grupos, chegando próximo da filosofia humana. Levitt não se veste de puritano ou humanista, ele mostra números, e ainda cita uma grande verdade... “toda a verdade que a sociedade aceita é aquela que lhe gera lucro e conforto”. O ser mais racional do planeta não sobrevive bem sem uma bela mentira para manter tudo na mais singela paz do convívio social.

Dos casos mostrados no livro, o que mais me interessou foi exatamente o que trata de uma gangue de tráfico de crack. Um outro cientista maluco, mas esse do ramo da sociologia mesmo - Sudhir Venkatesh, passou 6 anos no convívio direto com uma gangue. Até dormia e comia com os malfeitores.

É um péssimo momento para defender bandido. Na ultima semana a noticia que não sai do ar é a morte horrível do menino João Hélio Fernandes, que foi arrastado por 7 kilometros preso a um sinto de segurança.

Não vou negar que por mim os responsáveis pelo crime deveriam ser queimados vivos. Mas se eu jogasse gasolina neles e riscasse o fósforo, o que me tornaria diferente deles?

Sobre o estudo apresentado no livro Freakonomics com relação ao tráfico de drogas, um ex-integrante da gangue apresentou um livro com toda a contabilidade e pagamentos dos 4 anos que ele administrou as finanças. Durante a pesquisa o que mais deixou o sociólogo perplexo foi o tratamento que os bandidos davam as famílias dos comparsas mortos ou presos. Existia um “seguro” que cobria as despesas da família do bandido que morria. Outro fato comparativo apresentado era que o sistema de funcionamento hierárquico da gangue com o do MacDonalds, eram exatamente iguais. E como toda empresa capitalista, existia uma escalada profissional a ser seguida, e todos os participantes lutavam para conquistar um posto mais elevado, mesmo que os mais rebaixados cargos sofressem pressão de cima para baixo para continuarem no seu baixo posto... Tudo muito semelhante a qualquer loja do Walmart.

Para quem nunca conheceu a pobreza de perto, é muito fácil achar que uma bala na cabeça do menor infrator irá resolver o problema. Não estou falando só da questão de sobrevivência. Coisas como comida, água e higiene deveriam ser itens obrigatórios para qualquer habitante do planeta, mas vivemos em uma sociedade capitalista (pessoalmente acho a melhor forma gestão) que mostra na TV que a beleza é algo obrigatório. Carros, mansões e iates são troféus para um vencedor. Ai eu lhe pergunto, quem não quer ser vencedor?
O grande problema é que se você nasce em uma favela, é feio, não tem acesso a educação, seja domestica ou escolar, vive cercado pelo preconceito, e banido do convívio com aqueles que tem o poder, que na melhor situação poderiam ser seu capitão-do-mato e deixá-lo limpar suas botas ou lhe dar a mão para subir os degraus da vida, como você agiria se vivesse uma realidade assim?
Como seria acordar e ver que é negro, pobre, seu pai morreu pelo vicio do álcool, sua mãe mendiga em algum lugar e seus 4 irmãos vivem trancados no barraco passando fome ou subalimentados por alguma ração... O que você faria para ter o respeito que merece?

Toda e qualquer regra mostra que a melhor forma de obter um resultado é procurar o caminho mais fácil.

É mais fácil arrumar um emprego sem ter nenhuma base escolar e familiar ou virar olheiro do trafico?

Depois de apanhar da policia na rua só por estar maltrapilho é mais fácil perdoar ou se encher de irá?

E ai vem a pior pergunta:

Será que para uma comunidade miserável é fácil ver a comoção nacional pela morte horrível de uma criança branca de classe média, e saber que as crianças do moro quando levam um tiro de bala perdida nem sequer tem um hospital para serem atendidas?

Quantas crianças aos 6 anos já estão no círculo do tráfico? Quantas deles chegarão a maior idade?

Segundo Freakonomics a profissão mais perigosa dos EUA é a de cortador de madeira, essa profissão lhe dá 1 chance em 200 de morrer em um acidente. Se você está no corredor da morte esperando sua vez de sentar na cadeira elétrica, suas chances de morrer são de 1 em 100. Mas se você é soldado do tráfico, suas chances de morrer são de 1 em 4.
E o que diabos faz alguém correr tanto risco? Na verdade, viver na certeza que irá levar uma bala na cabeça?
A resposta: falta de oportunidades.

Além disso junte-se a repressão social. Onde posso citar o exemplo dos manifestos violentos ocorridos na França em 2005. Os baderneiros que atearam fogo em carros e depredaram lojas não eram mais miseráveis que africanos ou qualquer indigente do mundo, eles buscavam o mesmo que qualquer um, respeito e chances na vida.

Laranja mecânica ainda é muito atual...

2 comentários:

Anônimo disse...

Facilidade pra mim não é o ponto.
Isso é muito relativo... A facilidade relativa de ser olheiro do tráfico é transitória e quem o é sabe disso.

Um menino de 6 anos não tem culpa, sem demagogias, nem clichês, eu REALMENTE acho que a culpa é da socieda, so sistema, do meio.

Acho que a palavra certa é comodidade. Eu concordo que a minha realidade é deveras melhor que a de um menino que mora num morro carioca cujo o pai morreu em um "acidente de trabalho" e a mãe ganha R$50,00 por mês. Mas MEU pai batalhou, VOCE batalhou e essa é a realidade da maior parte da classe média brasileira.

Não digo que seja fácil, mas impossível não é. Talvez mais difícil inversamente proporcionalmente à renda. Acho que o termo "facilidade" é válido para ser empregado até o ponto em que está estabelecido o SEU limite. Qdo vc ultrapassa essa "divisão" do que diz respeito, afeta, aflige, atinge, só você e passa para o hemisfério onde vc está lidando e afetando diretamente outra qualquer parte ou parcela da sociedade, o termo "facilidade" é obrigatoriamente trocado por comodidade, por falta de visão, de bom senso, de compaixão. Falta de BEM.

Compreendo o que vc quer dizer, não concordo. EU, acredito que se formos ver por esse lado nada irá mudar nunca. Conformimo não leva ninguem a lugar algum

(minha opinião! Pelo amor de Deus!)

Marvin disse...

Muito interessante seu artigo. Tem fundamento :)