segunda-feira, 19 de maio de 2008

O mundo dos números...
















Você acredita em números?
Acredita que 80% da população acha o governo Lula perfeito e que esse mesmo tanto de gente aprova um terceiro mandato dessa turma de ladrões?

Em Pernambuco um grupo de estudantes e jornalistas criaram um site para contar os mortos diários, vitimas da violência urbano do estado mais violento do país.
Tem até um buscador de defuntos:
http://pebodycount.com.br/

Hoje, dia 19/05 haviam contabilizado 22 mortos. Mas esse numero é atualizado ao meio-dia diariamente. Quem morre depois do almoço só vira estatística no dia seguinte.

Pois eu vou provar que esses números são falsos.

Em um único quarteirão do bairro mais famoso e riquinho de Recife, 2 sujeitos tiveram suas vidas arrancadas por balas. Na sexta-feira (17/05) um sujeito é assassinado entre prédios lindos e gigantes. No sábado uma horda de pessoas, conhecidas como populares, começou um linchamento de um sujeito que terminara de assaltar um ônibus. O meliante tentou se esconder em baixo de um carro, mas foi puxado pelos justiceiros, e mesmo antes de sair do esconderijo por completo, levou um chute na cabeça que causou um amasso na porto do veiculo que qualquer um acreditaria ter sido ocasionado por um acidente.

No domingo (18/05), estava eu lá, observando do alto do sexto andar, os prédios luxuosos ao redor. No prédio do outro lado da rua, vi duas crianças brincando sozinhas na piscina. O prédio é um Moura Dubeux (grife) com uns 40 andares, e como todo MD, um acabamento impecável. O menino e a menina sozinhos naquele mundo de concreto, molhavam uma calçada de granito que deveria ter uns 60 metros, e deslizavam sobre a fina camada de água. Fiquei ali rindo da felicidade deles.

Olhando para o outro prédio, também crianças na piscina. Apesar do prédio ser menor, o numero de crianças também era pequeno, três meninas.

Imaginei (como sempre) a distorção que existe nesse mundo.
Ali ao lado, no final da rua, existe uma favela, que a cada dia é mais empurrada para o rio, e fazendo o pouco que restou da mata e mangue tornarem-se mais concreto e palafitas.
A impressão visual que se tem ao olhar da favela para o horizonte onde fica a bela praia de Boa Viagem é de que um tsunami de arranha-céus irá engolir toda aquela comunidade de pessoas pobres.
Do lado pobre muitas crianças e jovens, alguns brincando, outros com um olhar morto, com o mesmo aspecto dos jovens de classe média que não sabem o que pensar ou fazer de suas vidas, mas desse lado da onda,é fácil achar pessoas. Já nos prédios ricos, a impressão é que todo aquele cimento é vazio, que não existe vida ali. Como em um domingo, um edifício com 40 andares só se pode avistar duas crianças? Só duas pessoas para aquele castelo gigantesco?
Do outro lado novamente, vejo aquelas casinhas e corredores que levam a pequenos quartos que são alugados por outros pobres que resolveram ganhar com a única coisa que possuem... Um terreno invadido.
E os tiros me tiraram a concentração daquele vento gostoso da varanda.
Alguns minutos depois a vizinha toca a campainha e conta sobre sua experiência em ver um sujeito eliminando outro.

No mundo que vivemos, não adiantam as muralhas dos castelos da Mouse Dubeux. Nem as Pajeros blindadas, estamos todos com os olhos sem brilho, sem vida. Estamos com medo.

Particularmente eu não acho que o mundo está mais violento. Mas ele está mais banalizado. Os políticos escondem os números feios e inventam números bonitos. Você e eu só ficamos chocados e procuramos muralhas maiores, mas o bom mesmo seria ver aquelas crianças que brincavam com centenas de litros de água tivessem mais irmãos, e os pobres e sofridos filhos da miséria tivessem menos irmãos.
A desigualdade social também pode ser medida por essas castas, por essas proles tão diminutas. Um castelo com duas crianças, uma favela com milhares de crianças e 2 defuntos e linchado em um fim de semana de um quarteirão de ricos prédios.

Quando vejo o numero de 22 mortos entre domingo e segunda-feira em todo o estado de Pernambuco, sei que esse numero é muito inferior a realidade.

A violência é algo global, e o filme Valente (The Brave One) com a Jodie Foster mostra perfeitamente em que ponto chegamos. Estamos regredindo socialmente para uma era de barbárie, e todos sabemos como o mundo era nesse período. A grande diferença é que hoje não usaremos mais espadas e as nações em seus duelos pelo poder não matarão só alguns milhões.

Uma coisa eu tenho certeza, o homem não sabe aproveitar todo o poder que tem.
Só irão sobrar baratas.

4 comentários:

Sunflower disse...

Chantinon, acho que eu, antes de células sou feita de sentimento. Sábado passado sai com a minha mãe e ela disse que queria fazer um armário novo, passei e frente uma loja, vi o armario que tinha lá e gostei, quis mostrar pra ela. dentro da loja, sentado rente um mundo de colchões, tinha um meninozinho, contando as moedas dos chicletes que tinha vendido. ele via a gente e se escondeu. EU fiquei tão mal com aquilo, mas tão mal. As coisas que passaram pela minha cabeça pra compensar o constrangimento que causei a ele, fazendo com que ele se escondesse foram:
- abrir minha bolsa e jogar todo dinheiro nele, mas isso iria constrangelo e assustá-lo ainda mais;
- comprar todos os chicletes dele, mas isso faria com que eu desse suporte ao trabalho infantil;
- pegá-lo no colo e trazê-lo pra casa, mas isso eu simplesmente não posso fazer.

Então peguei minha mae pelo braço e sai correndo antes que algum vendedor quisesse atende a gente e expulsasse o menininho. Cheguei em casa e chorei. Eu sou só sentimento, e tem dias que estou mais sensível que uma tarturaga sem casco.

Chantinon disse...

Só irei responder...
Só vou responder...
Depois que eu me limpar...
Molhei as calças...
Hahahhahaha!

Acéfala disse...

Vamos por partes:
1º) “Particularmente eu não acho que o mundo está mais violento. Mas ele está mais banalizado”. STRIKE, AMIGO! Você foi bem no ponto! Tão banalizado que as pessoas vêem esse tipo de notícia, se chocam, mas já acham comum, tanto que dão audiência a Cardinot.
2º)“mas o bom mesmo seria ver aquelas crianças que brincavam com centenas de litros de água tivessem mais irmãos, e os pobres e sofridos filhos da miséria tivessem menos irmãos.” Desabafo sensacional!
3º)”A desigualdade social também pode ser medida por essas castas, por essas proles tão diminutas. Um castelo com duas crianças, uma favela com milhares de crianças”. É uma diferença que dói! Fala-se tanto (e a tanto tempo) em democracia, e os acessos são cada vez mais restritos. Os abismos entre as tais castas são cada dia mais gritantes, e o pouco que se faz é assistencialismo. E tanta diferença até distorce os valores dessas pessoas que habitam esses castelos, que hoje são crianças e amanhã serão jovens que, como você mesmo abordou no texto, nem sempre saberão o que fazer das suas vidas. E enquanto nos castelos imperam as leis da inversão de valores, as favelas são regidas pela lei da sobrevivência.

Sua maneira objetiva de ser crítico é invejável! O texto está ótimo!

Chantinon disse...

Hehehe... Acéfala, vc tá exagerando na parte que me toca :)

Nem sou a voz do povo e muito menos a de Deus, sou somente um observador, e tenho consciência que criticar é muito fácil, mas gerir um país que o nosso do modo que vem sendo feito, é só prova que até um idiota com um pouquinho de boa vontade e coragem poderia fazer melhor que essa quadrilha que está no poder.

Mas quando se está no castelo, a periferia é só óleo para a engrenagem.